Há mais de dois séculos os franceses param nesse dia para celebrar a tomada da histórica prisão por revolucionários, em frontal desacato ao poder real. Certo? Errado! por Olivier Tosseri | ||||||
A escolha do evento a ser celebrado foi feita no fim do século XIX, quando a Terceira República da França buscava consolidar o novo regime e construir um imaginário nacional próprio. Em 1880, o deputado Benjamin Raspail propôs o dia da tomada da Bastilha como data da festa nacional. Alguns parlamentares, no entanto, lembraram a violência que havia marcado aquela jornada revolucionária, quando o povo de Paris cortou a cabeça do governador da prisão e linchou os veteranos encarregados de vigiar os prisioneiros. Por conta do caráter polêmico da tomada da Bastilha, os deputados preferiram escolher a manifestação de 1790, por ser mais consensual. A Festa da Federação marcou o momento em que, após os enfrentamentos do ano anterior, o povo francês se reconciliou. A partir do dia 1º de junho de 1790, operários trabalharam ao lado de burgueses para transformar o Campo de Marte, em Paris, em um imenso circo com capacidade para 100 mil pessoas, no centro do qual se erguia o Altar da Pátria. A reforma, para a qual se recorreu à boa vontade dos parisienses, foi realizada em um clima de fraternidade e entusiasmo. Até mesmo o rei Luís XVI foi visto empunhando uma enxada, assim como o marquês de La Fayette, nobre que apoiava a revolução, apareceu em mangas de camisa. Naquele momento a França ainda não era uma República. A agitação social do ano anterior havia levado a monarquia a aceitar uma Constituição. Até ali, os franceses ainda respeitavam seu rei, contanto que ele observasse as leis e a autoridade emanadas do povo. A Festa da Federação foi organizada justamente para celebrar uma decisão da Assembleia Constituinte de 7 de junho de 1790, que reunia as diversas milícias de cidadãos formadas nas províncias. Assim, no dia 14 de julho de 1790, cerca de 100 mil soldados federados entraram em Paris e desfilaram da Bastilha ao Campo de Marte. Luís XVI, a rainha Maria Antonieta e o delfim (príncipe herdeiro) instalaram-se no pavilhão montado em frente à Escola Militar. Do outro lado, haviam erigido um arco triunfal. Nas tribunas, acotovelavam-se 260 mil parisienses. Por fim, no ponto alto da celebração, La Fayette jurou fidelidade à nação, ao rei e à lei, juramento repetido pela multidão. Luís XVI jurou fidelidade à Constituição. Um Te Deum (hino litúrgico) encerrou a jornada, que terminou em vivas e abraços. Não se contestou a monarquia, ratificou-se a revolução e se celebrou a união nacional. Foi esse espírito que os deputados do século XIX quiseram associar ao 14 de julho. Na memória coletiva, porém, a data sempre será lembrada como o dia em que o povo tomou a Bastilha, o maior símbolo do absolutismo francês. Fonte: História Viva |
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