Após a descoberta do continente americano, recorde-se que o objectivo foi atingir a Índia pelo Ocidente, vários foram os navegadores que procuraram a passagem que dava o acesso ao outro oceano. Apenas Fernão de Magalhães em 1520 logrou descobri-la, bem ao sul do continente americano, através de um estreito batizado com o seu nome.
Isso significava que para ligar por via marítima os dois lados desse continente tinha-se de rodear esse mesmo continente pelo sul. Essa penosa viagem significava meses de navegação. Não admira portanto que desde então se tenha pensado em abrir um canal que unisse os oceanos Atlântico e Pacífico
Tal idéia de abrir uma via de navegação marítima através do istmo do Panamá remonta ao século XVI, quando o conquistador espanhol Vasco Nunes de Balboa atravessou pela primeira vez a faixa de terra que separa os oceanos Atlântico e Pacífico e verificou que a sua largura não chegava a cem léguas. Em 1534, o Imperador Carlos V mandou investigar e encarou a possibilidade de abrir um canal que pouparia à armada castelhana meses de navegação para atingir o Peru. No entanto, a região era um caos geológico dificultando e muito a exploração do local.
Após quatro séculos de nenhuma tentativa de construção do canal, em 1848 reinicia-se a idéia de implementação de um projeto de edificação do canal. Com a descoberta de ouro na Califórnia, milhares de aventureiros de várias partes do mundo, para encurtar o caminho até o metal precioso, atravessaram o istmo do Panamá a pé ou pelo então recém construído caminho-de-ferro. Os Estados Unidos por sua vez também utilizaram esta via para mandar reforços militares para a Costa Oeste e ali consolidar uma soberania ainda pouco segura.
No entanto, o francês construtor do Canal de Suez apresentou em 1876 o seu projeto de construção de um canal no istmo do Panamá. Foram feitos os primeiros levantamentos e as primeiras negociações com o governo da Colômbia, a quem pertencia a província do Panamá, acerca da concessão da construção e exploração do futuro canal.
Em 1878 ocorre a assinatura de um tratado com o governo de Bogotá, repassando à sociedade francesa a exclusividade da construção do canal e da sua exploração posterior por um período de 99 anos. Iniciam-se assim os trabalhos e logo surgem os primeiros imprevistos, a malária,a febre amarela e outras doenças tinham dizimado 20.000 operários e a hostilidade ao empreendimento pelos Estados-Unidos não favorecia o bom andamento do projeto.
Em 1887, o projeto foi finalmente abandonado. A companhia francesa foi encarregada pelos credores de salvar o que ainda podia ser salvo do desastre financeiro. Uma nova companhia, a Compagnie Nouvelle du Canal de Panama, foi criada em 1894 pelos franceses para tentar acabar o canal, mas também não teve sucesso. Restava agora encontrar um comprador já que a concessão dos terrenos só terminava em 1903. O governo dos Estados Unidos encontrava-se atento e, em 1902, o Congresso norte-americano autoriza a compra da concessão dos franceses.
A influência dos EUA
O governo colombiano, apoiado pelas demais repúblicas latino-americanas, já inquietas com a ambição hegemônica dos Estados Unidos, não autorizou a transação. Em contrapartida, os Estados Unidos apoiaram a agitação separatista no Panamá. Quando, em 1 de novembro de 1903, o Parlamento de Bogotá veta a concessão do canal aos Estados Unidos, a frota norte-americana bloqueia todos os portos do Panamá e, três dias depois era proclamada a independência da República do Panamá.
Finalmente, um mês mais tarde, as novas autoridades panamenhas assinam um acordo com os Estados Unidos para a construção e exploração do canal. O tratado, ratificado em 1909, entregava aos Estados Unidos a posse da futura via navegável e de uma faixa de cinco milhas de terras de ambos os lados do canal, pelo preço de dez milhões de dólares.
A marinha norte-americana tinha sido encarregada de levar o projeto com sucesso, e as obras recomeçam em 1904, marcada por uma disciplina e estratégia militar que havia faltado aos europeus.
A construção do Canal do Panamá
A construção demorou 10 anos desta vez com mais recursos tanto financeiros (371 milhões de dólares),como tecnológicos. Trabalharam mais de 35 mil homens. Mesmo assim o projeto inicial foi várias vezes alterado e o responsável inicial John F.Wallace demitiu-se sendo substituído por John Stevens e este finalmente por George Goethals.
A solução de comportas mostrou-se a mais acertada. Um dique em Gatun criou um lago artificial cujas águas enchem as eclusas. As eclusas de Gatun elevam os navios a 26 metros até ao lago artificial. Como são duplas permitem a subida e descida simultânea de navios. Ao fim de 8/9 horas os navios atingem o oceano Pacífico depois de terem descido 9,5 m na eclusa de Pedro Miguel e 16,5 na de Miraflores.
Todas as eclusas têm 305 metros de comprimento por 33 metros de largo e nestas os barcos são puxados por pequenos comboios chamados de “mulas”. Em Agosto de 1914 terminaram as obras e o cargueiro SS Ancon foi oficialmente o primeiro navio a passar o canal.
Importância do Canal do Panamá
A importância deste canal, é de vital importância para o comércio mundial, justifica a presença de um forte continente militar norte-americano numa base sediada no Panamá.
Trabalhos de construção na falha de Gaillard, 1907. |
Desde então se inicia o comércio marítimo na região do canal, intensificando os laços entre os Estados Unidos e o Panamá, que conviveram pacificamente até a década de 50, com a administração militar norte-americana na Zona do Canal.
No entanto, a partir dos anos 60, os nacionalistas panamenhos começaram a ver no canal e nas altas grades eletrificadas que o envolviam, um símbolo do imperialismo norte-americano, remetendo a idéia do Muro de Berlim. A situação se agrava em 1964, quando ocorre a morte de 21 estudantes panamenhos que tentavam içar a bandeira de seu país na Zona do Canal. Tal fato inicia uma mobilização popular.
Em 1968, o general Omar Torrijos assume o poder no Panamá e inicia árduas negociações com os Estados Unidos para fazer vingar os seus projetos de reforma agrária e de recuperação da soberania sobre o canal.
Por fim, inicia-se a década de 70 e as negociações precisam ser efetivadas, regulamentando a questão do canal o mais rápido possível. Algumas questões devem ser repensadas e profundamente analisadas. Os direitos de exploração da área do canal foram adquiridos pelos Estados Unidos, que construíram o Canal do Panamá. No entanto, tal intervenção ameaça a soberania panamenha sobre o seu território e sobre os seus recursos. A idéia da transferência do canal também fere o orgulho norte-americano, que possui objetivos de consolidar sua supremacia mundial, principalmente no cenário da Guerra Fria vigente, o que torna a área do canal ainda mais estratégica.
O impasse fica ainda maior pois a repercussão do caso se alastra em nível internacional, despertando a opinião pública para a importância desse problema nas Américas. A questão ameaça a segurança continental, principalmente levando-se em consideração a área de neutralidade no canal e o contexto da década de 70. Sendo assim, a Organização dos Estados Americanos coloca o assunto em pauta nas suas discussões como forma de alcançar a resolução definitiva do problema.
Em 1977, o tratado foi revisto passando o Panamá a controlar o canal desde de 31 de Dezembro de 1999
Curiosidades:
• A obra custou 639 milhões de dólares, sendo 55% desse total gasto pelos Estados Unidos e 45% pela França
• Cerca de 80 mil pessoas estiveram envolvidas na realização das obras, sendo 75% na etapa americana e 25% na etapa francesa
• Mais de 25 mil homens morreram nos 35 anos de construção do canal, o que corresponde a quase duas mortes por dia
• Todo o cimento utilizado na construção da estrutura foi trazido em navios de Nova York
• A rota seguida pelo canal cruza a Cordilheira Continental, que tinha originalmente 100 metros de altura em seu ponto mais alto
• O canal possui aproximadamente 80 quilômetros de extensão e umnavio leva, em média, dez horas para cruzá-lo e mais 20 horas entre manobras de aproximação e outros serviços
• Um navio de grande porte viajando de Nova York a São Francisco economiza 14 580 quilômetros utilizando o Canal do Panamá em vezde circundar a América do Sul
• Como é cobrado por peso, o maior pedágio pago para atravessar o canal foi de 141 mil dólares, pelo cruzeiro turístico Crown Princess. Já o menor foi de 36 centavos de dólar, pago por Richard Halliburton, que atravessou o trecho a nado em 1928
• Para construir o canal foram removidas cerca de 300 milhões de metros cúbicos terra, quantidade suficiente para construir uma nova Muralha da China, só que 1 600 quilômetros mais extensa
• Cruzam o Canal do Panamá, em média, 42 navios por dia, quase 15 mil navios por ano. Por ali passa, atualmente, cerca de 4% do comércio mundialFuncionamento:
Água morro acima
Um caminho entre o Atlântico e o Pacífico
Eclusas Gatún
A entrada atlântica do canal se localiza na baía de Limón. Após passar pelas enormes rompeolas (“quebra-mar”, em espanhol), barreiras que impedem o avanço da maré alta e facilitam a navegação, os navios percorrem 10,5 quilômetros até a primeira comporta. Uma seqüência de três eclusas eleva os navios até a superfície do lago Gatún, 26 metros acima do nível do mar
Lago Gatún
Até 1935, Gatún foi o maior lago artificial do mundo. Possui 418 quilômetros quadrados e foi alagado em 1910 com a construção da barragem, que controla o curso das águas do rio Chagres
Eclusa Pedro Miguel
Construção das eclusas de Pedro Miguel, no início da década de 1910. |
Está situada longe da costa por razões militares: pretendia-se evitar que o canal fosse inutilizado em caso de um ataque às bases americanas. Ao passar por Pedro Miguel, os navios descem a 10 metros de altitude e navegam pelo lago Miraflores até o próximo jogo de eclusas
Eclusas Miraflores
Ao contrário da entrada atlântica, o lado pacífico não possui rompeolas. Por isso, as eclusas Miraflores têm comportas maiores para sustentar o impacto e a alteração da maré do Pacífico, que pode variar em até 4 metros
Como é feita a travessia
Antes de o navio iniciar a travessia, o prático (piloto habilitado a navegar no canal, por conhecer a rota e os locais de passagem), sobe a bordo e assume o comando da embarcação. O navio é conectado ao rebocador que realiza as operações de manobra nas águas do canal. A travessia das eclusas é feita com a ajuda das mulas. Essas poderosas locomotivas se movem por trilhos paralelos às eclusas e se conectam aos navios por cabos, cuja regulagem mantém a estabilidade da embarcação e evita choques nas paredes laterais das câmaras. O número de mulas utilizado por travessia varia de quatro a oito, dependendo do tamanho do navio
Como funcionam as eclusas
Um sistema de eclusas é formado por câmaras, comportas e tubulações que levam a água de uma câmara à outra. No Canal do Panamá, todas as câmaras possuem as mesmas medidas (33,5 metros de largura e 306 metros de comprimento) e estão construídas em pares, lado a lado, para permitir que a navegação seja feita em dois sentidos. Cada câmara leva entre 8 e 15 minutos para encher de água. A água se move sem o auxílio de bombas, pela força da gravidade, através de uma tubulação central e duas laterais (com 5,5 metros de diâmetro cada). Para encher uma eclusa, fecham-se as válvulas das tubulações do extremo inferior da câmara, enquanto as que se encontram na ponta superior são abertas. O esvaziamento segue o processo inverso. A água utilizada nas eclusas é doce, proveniente dos lagos Gatún e Maidden, que é dispensada no mar sem reaproveitamento. Cada comporta possui um compartimento oco em seu interior, que provoca flutuação e conseqüente diminuição da força necessária para sua abertura ou fechamento.
Fonte: Aventuras na História
Olá Pedro,
ResponderExcluirGostei muito do seu blog. Muito informativo e interessante. Vou disponibilizá-lo no meu site para o pessoal acessar.
Abs,
Pamella
Oi... Adorei! Alguém teria como me ajudar?! Quero alguns livros sobre o canal do Panamá, a soberania dos EUA, etc... Mh monografia será sobre esse assunto, mais não tenho achado nada aqui pelas livrarias, to meio desesperada, rs... Quem puder me ajudar, agradeço mt... Se puderem mandem dicas para o meu email... queniajan@bol.com.br... Mt obrigada! Quênia.
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