Imagine a
situação – Tem início o ano letivo, o professor todo animado e entusiasmado
apresenta-se para a turma, fala de sua metodologia, faz um ligeiro comentário
sobre o que estudarão naquele ano, tenta ser o mais agradável possível, afinal
é o primeiro contato com os alunos, e, depois de alguma conversa, ele faz a
pergunta – Vocês gostam de história? – Então impera o silêncio ou ouve-se um
murmurinho – História para quê? Estudar coisas que já se passaram? Saber da
vida de pessoas que já se foram? Eu odeio história! – Então o professor se
depara com uma desagradável situação, ensinar para aqueles que nutrem uma certa
antipatia contra a sua disciplina, ou seja, acreditam não gostar de história,
mas estão enganados, na verdade gostam, sim! Todo mundo gosta de história,
mesmo inconscientemente.
"História inclui todo o traço e vestígio de tudo o que o homem fez
ou pensou desde seu primeiro aparecimento sobre a Terra."¹ Partindo deste princípio, pode-se
entender que tudo o que o homem fez, vira história, pode-se também afirmar,
através de estudos e vivências, que o homem sempre gostou de registrar a sua
presença na Terra, suas ações e pensamentos. Desde os primórdios, os homens
marcam sua presença no planeta através das pinturas rupestres e variados
objetos deixados por eles, nos tempos atuais os registros ocorrem através de múltiplos
instrumentos, como fotografias, diários pessoais, músicas, pinturas, livros e
outras diversas formas de arquivar o que acredita ser importante para ser
visto, contemplado ou estudado pelo próprio autor ou por gerações
futuras.
Mesmo que ocorra em um âmbito familiar,
isso tudo na verdade é uma forma de perpetuar sua história, a vontade
íntima de ser lembrado por alguém. Muitas pessoas têm certa aversão ao estudo
de história pela ideia da mesma ser uma disciplina que implica muita leitura
(uma afirmativa verdadeira, mas não conclusiva), acreditam que é necessário
DECORAR informações tediosas como nomes de todos os faraós do Antigo
Egito ou de imperadores romanos, biografas de presidentes ou datas que a
princípio não dizem nada, na verdade essas pessoas não gostam da história
formal, acadêmica e tecnicista, mas gostam de exercitá-la e aprendê-la de
inúmeras maneiras, por exemplo, o gosto pela conversa com pessoas
mais velhas, mais experientes, para saber um pouco mais sobre tudo o que foi
mudado pela ação do tempo, de como eram as coisas antes, e, quase sempre
ouvindo a clássica frase “no meu tempo era melhor”. Todo mundo gosta de olhar
uma fotografia, muitas vezes, contemplando-a detidamente, e mesmo sem saber
estão fazendo um estudo de uma fonte histórica, afinal, ninguém consegue tirar
uma foto do futuro; todos ficam satisfeitos em entender uma curiosidade ligada
ao passado; de saber se o que viram em um determinado filme ou novela realmente
aconteceu daquele jeito; muitos ficam curiosos em saber como uma obra de
edificação foi construída em períodos de menos recursos técnicos, mesmo assim
destacam-se por sua beleza e durabilidade; gostam de explicitar que o seu time
no passado era bem melhor do que hoje. É indiscutível, todo mundo gosta do
saber histórico, pode não ser o saber acadêmico, teórico e especializado, mas
de um saber que lhe traga prazer.
Somos todos sujeitos históricos, todo mundo é protagonista de suas ações
no tempo e espaço, ações essas que serão revisadas, servirão de base para
elucidação de dúvidas ou problemas contemporâneos, mesmo que apenas
mentalmente, nossas lembranças virão à tona. Como diz o historiador Erick Hobsbawn
“A única generalização cem por cento segura sobre história é aquela que diz que
enquanto houver raça humana haverá história”, ou seja, enquanto existir
seres humanos sobre a Terra estaremos fadados a fazer História, querendo ou
não, gostando ou não.
¹ ROBISON, James Harvey, citado em BURK, Peter. A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo. Unesp,
1992.
Professor Pedro Paulo Dias
Graduado em História e criador do blog História Pensante
historiapensante@gmail.com
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