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sábado, 20 de junho de 2020

Um pouco sobre homossexualidades na Colônia Portuguesa da América


Autor: Professor Gilberto Soares

A moral católica era o trilho pelo qual corria a vida do português a época das grandes navegações. Até uma das propostas de enfrentamento ao Mar Tenebroso era a difusão da fé cristã e conversão dos infiéis. Das regras da Igreja, havia as que ditavam o comportamento sexual das pessoas. Sexo era uma prática exclusivamente voltada para a reprodução, ao menos oficialmente, prova disso era que os europeus católicos se infectavam com sífilis ainda na Idade Média.
            Sexo entre marido e esposa tinha, também, seu manual: relações noturnas, sem nudez completa, duas vezes por semana (não mais que isso) e sem provocar a volúpia por gestos, palavras ou atitudes impudicas.
            Uma prática intolerável era o chamado Pecado Nefando (peccatum nefandum), condenado pelo Santo Ofício, a sodomia era um dos quatro pecados que provocam a ira de Deus.
            Os navegadores europeus que aportaram na Terra Brasilis, se espantavam primeiro com a nudez dos nativos que aqui se encontravam e aos poucos iam se espantando com tudo mais que podiam. Na sexualidade, os indígenas tinham uma prática bem diferente da europeia, visto que ainda não havia filial do Santo Ofício por aqui.
Jean-Baptiste Debret  - Família de um chefe Camacã preparando-se para uma festa
            A virgindade não era bem vista pelos nativos, condenavam quem atrasava a primeira relação sexual. Não havia obrigação da fidelidade marital, podendo um casal se relacionar com outros sem nenhum espanto ou constrangimento. No filme “Caramuru - A Invenção do Brasil”, Diogo Alvares, interpretado por Selton Melo, é capturado pelos tupinambás e a ele é oferecida as filhas do chefe da tribo, para que com elas se deitassem. Isso era uma realidade entre os nativos, onde um inimigo capturado tinha o direito de deitar-se com as filhas e esposa de seu captor. Verdade, também, era o espanto dos católicos europeus com tal prática.
            Entre os indígenas Guaicurus, existiam os chamados Cudinas que eram homens castrados que agiam como mulheres, sendo deles, também, tarefas dadas a elas. Em alguns casos os cudinas podiam exercer o papel de prostitutas.
            Entre os tubinambás era comum que homens fizessem sexo com homens, sendo o ativo muito orgulhoso de seus feitos, a ponto de contar aos outros e se gabar de sua proeza.
            Entre as mulheres, as çacoaimbeguira eram indígenas masculinizadas que saiam pra caçar, cortavam seus cabelos como os de homem, iam a guerra e tinham suas esposas.
            As Icamiabas inspiraram o nome do rio Amazonas, batizado em homenagem as mulheres guerreiras que viviam as margens do rio, quando a expedição de Francisco de Orellana buscava sua foz.
            Se os indígenas reconheciam e até tinham como natural outras sexualidades, os europeus condenavam essas práticas. Em 1614 foi executado no Maranhão o indígena Tibira – A palavra tibira, tivira ou tibirô designava homossexual na língua tupi – pelo crime de sodomia. O missionário católico francês Yves d’Évreux mandou amarrá-lo na boca de um canhão, que foi disparado partindo-o em pedaços. Já se vê que nessa época era pecado ser homossexual, mas não tinham problemas quanto ser assassino sádico.



Fontes consultadas:
Devassos no paraíso: a homossexualidade no Brasil, da colônia à atualidade – João Silvério Trevisan


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