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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Governos não-autoritários também censuravam o teatro brasileiro


Uma análise dos documentos do Departamento de Diversões Públicas de São Paulo, revelou que não foram só os governos autoritários que censuraram o teatro. O arquivo está em poder da USP e foi divulgado agora.

Renato BiazziSão Paulo, SP
Nem o teatro de revista escapou. No governo de Getúlio Vargas, a vedete Dercy Gonçalves foi considerada um atentado aos bons costumes e "Paris 1900" foi impedida de estrear. Para o censor, a peça não suportava supreções ou cortes, merecia impugnação total.
Seis mil documentos estão na Universidade de São Paulo. A coordenadora da pesquisa em comunicação e censura, Cristina Costa, diz que foi surpreendente descobrir que em governos não autoritários, também houve censura.
"Durante o governo JK também se censurou muito o teatro. Os artistas queriam falar de Brasil, criticar o Brasil. Então o teatro é justamente perseguido porque é o palco em que essa discussão se processava".
Em 1957, quando Jânio Quadros era governador de São Paulo, o que movia os censores era o moralismo. Nelson Rodrigues foi vítima das senhoras católicas que mandavam cartas pedindo a proibição de peças dele, como por exemplo, "Perdoa-me por me Traíres".
Após o golpe de 64, a questão passou a ser política. "Na ditadura militar, escolheu-se o teatro como exemplo da repressão à cultura chamada subversiva".
Entre os mais censurados estavam: Plínio Marcos, Gianfranceso Guarnieri e Dias Gomes. Anos mais tarde, o texto proibido foi a base de Roque Santeiro, uma das novelas de maior sucesso da televisão brasileira.
Os últimos documentos analisados pelos pesquisadores da USP são de 1970. Daí para frente a censura deixou de ser feita pelos estados, foi centralizada em Brasília. A vida nos palcos, que já era difícil, ficou perigosa.
Com o aumento da repressão, artistas foram presos e exilados e as principais salas do chamado teatro engajado, como o Oficina, foram fechadas.
O diretor do Oficina, Zé Celso Martinez Correa, só voltou para o Brasil no final dos anos 70. Ele acredita que apesar do retrocesso, o teatro brasileiro se reencontrou.
"Ele foi cortado, ele foi para o subterrâneo, mas ele continuou existindo e emergiu. Nós no Oficina, conseguimos 'reexistir".
"Havia uma evolução no mundo inteiro do teatro. Não só no Brasil, no mundo inteiro, e isso foi cortado", afirma Zé Celso.

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