Na cultura popular, o carrasco é lembrado em muitas histórias
e filmes, além de se tornar tema para fantasias no dia das bruxas dos países
anglo-saxônicos ou em festas brasileiras.
Os carrascos brasileiros podem até tomar uma vodca vagabunda
em festa adolescente, mas a figura do responsável por retirar a vida de
condenados é parte da história da humanidade e ainda existe até os dias atuais
em países que possuem a pena capital em seus códigos penais.
Estereotipados pela figura com capuz preto na cabeça, portando
a ferramenta de matar nas mãos e uma insensibilidade cruel que virou até
adjetivo quando usado figurativamente, o carrasco clássico – se é que podemos
definir assim – esteve na cena mórbida até 1939.
Na ocasião, perdeu a cabeça – literalmente - Eugen Weidmann,
um criminoso francês morto na guilhotina. Apesar de seu carrasco não estar
usando nenhum capuz durante a execução, foi nessa ocasião em que se encerraram
os espetáculos de execuções públicas no ocidente.
Nos últimos anos a ideia de execução passou a contar não mais
com a figura do carrasco como representante direto da força punitiva, mas com
um número de especialistas capaz de cessar a vida e fazer cumprir a pena de
forma menos dolorosa possível.
Se na contemporaneidade o carrasco deixa de lado o arquétipo
medieval, tornando-se apenas o representante do Estado na execução da pena,
puxando uma alavanca ou apertando o embolo da injeção letal, na Idade Média ele
vai ter todas as características que popularmente atribuímos a ele.
O carrasco era o responsável, não apenas por matar, mas por
punir fisicamente e arrancar confissões diversas. Um bom carrasco era aquele
capaz de fazer o acusado confessar, infligindo lhe o máximo de dor, fazendo o
sofrer, mas continuando vivo. É importante ressaltar que, na Inquisição, as
torturas não tinham como função a morte do acusado, que seria feita depois, de
maneira pública, mas sim arrancar confissões. Carrascos pouco habilidosos
poderiam matar o acusado administrando um pouco mais de força em um equipamento
de tortura, enquanto um bom carrasco administraria força adequada para causar
sofrimento e garantir que o acusado confessasse até o que não fez.
Na execução por decapitação, até o advento, na França, da
guilhotina na segunda metade do século XVIII, cabia ao carrasco habilidade
suficiente para, com a espada ou machado, arrancar a cabeça em um golpe apenas.
Um carrasco inábil ou uma lâmina pouco afiada poderiam transformar uma execução
pública em um show de horrores, se é que seria possível piorar a exibição.
Nos enforcamentos, o algoz era o responsável por colocar o
laço na cabeça do condenado, soltar o alçapão do cadafalso. Era função do
carrasco, também, fazer o nó e garantir o uso de uma boa corda, com a medida
exata para o sucesso da execução.
Em outras formas de execução, havia a utilização do público.
Na roda, que consistia em uma roda de carroça raiada, o condenado era amarrado
nela pelos carrascos, quebrando-se seus membros para garantir o melhor encaixe
e depois deixado na rua para morrer, onde o público podia participar cuspindo e
dizendo impropérios. Existem relatos de pessoas que sobreviveram por mais de
três dias nesse suplício.
A gaiola, ou caixão, consistia em uma gaiola suspensa, onde o
condenado era colocado pelo carrasco para morrer e ficava lá por dias, onde as
pessoas também davam sua contribuição.
Entre as punições aplicadas por carrasco, excetuando-se a
pena de morte, estavam chicotadas ou açoites nas costas finalizadas com uma
pitada de sal pressionada contra a ferida para aumentar a dor. Com a ajuda
pública, o carrasco prendia na berlinda, uma espécie de tábua com buracos, e as
pessoas podiam estapear, jogar objetos, cuspir e garantir a humilhação do
condenado.
Odiados e temidos pela maior parte da população, esses
trabalhadores – que é do nome dos carrascos romanos que surgiu a palavra
trabalho (trepaliare) - usavam
capuzes para se esconder durante a execução das penas e, popularmente,
acreditava-se que suas almas eram amaldiçoadas. O último carrasco a realizar
uma execução em Portugal, Luís Antônio Alves dos Santos (1806–1873), morreu de
um ataque de asma e até hoje os moradores da região onde vivia acreditam ouvir
os gritos do falecido algoz.
FONTES
CONSULTADAS:
https://www.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/100449-descubra-como-foi-a-ultima-execucao-publica-por-meio-da-guilhotina.htm
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/civilizacoes/1939-a-ultima-execucao-publica-do-ocidente.phtml
https://pt.wikipedia.org/wiki/Roda_(pena_de_morte)
https://descobrirportugal.pt/patio-do-carrasco-local-morava-habitante-odiado-lisboa/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Roda_(pena_de_morte)
https://pt.wikipedia.org/wiki/Trip%C3%A1lio
GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as
ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das
Letras, 2006.
READ, Piers Paul. Os Templários: A História dramática dos
Templários, a mais poderosa Ordem Militar dos Cruzados. Rio de Janeiro: Imago,
2001.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad.
Lígia M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1987.
IMAGENS:
https://br.pinterest.com/pin/758926974676478134/?lp=true
http://www.bobleesays.com/2015/10/01/dan-kane-bravehearts-the-swoff-13-minutes-of-hell/braveheart-1995-movie-beheaded-ending-torture-william-wallace-axe-executioner-review-tower-of-london/
https://allthatsinteresting.com/medieval-torture-devices/2
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