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domingo, 16 de setembro de 2018

PERSONAGENS DA HISTÓRIA: O Carrasco

Na cultura popular, o carrasco é lembrado em muitas histórias e filmes, além de se tornar tema para fantasias no dia das bruxas dos países anglo-saxônicos ou em festas brasileiras.

Os carrascos brasileiros podem até tomar uma vodca vagabunda em festa adolescente, mas a figura do responsável por retirar a vida de condenados é parte da história da humanidade e ainda existe até os dias atuais em países que possuem a pena capital em seus códigos penais.

Estereotipados pela figura com capuz preto na cabeça, portando a ferramenta de matar nas mãos e uma insensibilidade cruel que virou até adjetivo quando usado figurativamente, o carrasco clássico – se é que podemos definir assim – esteve na cena mórbida até 1939. 

Na ocasião, perdeu a cabeça – literalmente - Eugen Weidmann, um criminoso francês morto na guilhotina. Apesar de seu carrasco não estar usando nenhum capuz durante a execução, foi nessa ocasião em que se encerraram os espetáculos de execuções públicas no ocidente.



Nos últimos anos a ideia de execução passou a contar não mais com a figura do carrasco como representante direto da força punitiva, mas com um número de especialistas capaz de cessar a vida e fazer cumprir a pena de forma menos dolorosa possível.

Se na contemporaneidade o carrasco deixa de lado o arquétipo medieval, tornando-se apenas o representante do Estado na execução da pena, puxando uma alavanca ou apertando o embolo da injeção letal, na Idade Média ele vai ter todas as características que popularmente atribuímos a ele.

O carrasco era o responsável, não apenas por matar, mas por punir fisicamente e arrancar confissões diversas. Um bom carrasco era aquele capaz de fazer o acusado confessar, infligindo lhe o máximo de dor, fazendo o sofrer, mas continuando vivo. É importante ressaltar que, na Inquisição, as torturas não tinham como função a morte do acusado, que seria feita depois, de maneira pública, mas sim arrancar confissões. Carrascos pouco habilidosos poderiam matar o acusado administrando um pouco mais de força em um equipamento de tortura, enquanto um bom carrasco administraria força adequada para causar sofrimento e garantir que o acusado confessasse até o que não fez.

Na execução por decapitação, até o advento, na França, da guilhotina na segunda metade do século XVIII, cabia ao carrasco habilidade suficiente para, com a espada ou machado, arrancar a cabeça em um golpe apenas. Um carrasco inábil ou uma lâmina pouco afiada poderiam transformar uma execução pública em um show de horrores, se é que seria possível piorar a exibição.

Nos enforcamentos, o algoz era o responsável por colocar o laço na cabeça do condenado, soltar o alçapão do cadafalso. Era função do carrasco, também, fazer o nó e garantir o uso de uma boa corda, com a medida exata para o sucesso da execução.

Em outras formas de execução, havia a utilização do público. Na roda, que consistia em uma roda de carroça raiada, o condenado era amarrado nela pelos carrascos, quebrando-se seus membros para garantir o melhor encaixe e depois deixado na rua para morrer, onde o público podia participar cuspindo e dizendo impropérios. Existem relatos de pessoas que sobreviveram por mais de três dias nesse suplício.

A gaiola, ou caixão, consistia em uma gaiola suspensa, onde o condenado era colocado pelo carrasco para morrer e ficava lá por dias, onde as pessoas também davam sua contribuição. 

Entre as punições aplicadas por carrasco, excetuando-se a pena de morte, estavam chicotadas ou açoites nas costas finalizadas com uma pitada de sal pressionada contra a ferida para aumentar a dor. Com a ajuda pública, o carrasco prendia na berlinda, uma espécie de tábua com buracos, e as pessoas podiam estapear, jogar objetos, cuspir e garantir a humilhação do condenado.

Odiados e temidos pela maior parte da população, esses trabalhadores – que é do nome dos carrascos romanos que surgiu a palavra trabalho (trepaliare) - usavam capuzes para se esconder durante a execução das penas e, popularmente, acreditava-se que suas almas eram amaldiçoadas. O último carrasco a realizar uma execução em Portugal, Luís Antônio Alves dos Santos (1806–1873), morreu de um ataque de asma e até hoje os moradores da região onde vivia acreditam ouvir os gritos do falecido algoz. 

FONTES CONSULTADAS:

https://www.megacurioso.com.br/historia-e-geografia/100449-descubra-como-foi-a-ultima-execucao-publica-por-meio-da-guilhotina.htm

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/civilizacoes/1939-a-ultima-execucao-publica-do-ocidente.phtml

https://pt.wikipedia.org/wiki/Roda_(pena_de_morte)

https://descobrirportugal.pt/patio-do-carrasco-local-morava-habitante-odiado-lisboa/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Roda_(pena_de_morte)

https://pt.wikipedia.org/wiki/Trip%C3%A1lio

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

READ, Piers Paul. Os Templários: A História dramática dos Templários, a mais poderosa Ordem Militar dos Cruzados. Rio de Janeiro: Imago, 2001.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Lígia M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, 1987.


IMAGENS:

https://br.pinterest.com/pin/758926974676478134/?lp=true

http://www.bobleesays.com/2015/10/01/dan-kane-bravehearts-the-swoff-13-minutes-of-hell/braveheart-1995-movie-beheaded-ending-torture-william-wallace-axe-executioner-review-tower-of-london/

https://allthatsinteresting.com/medieval-torture-devices/2
 

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