"Já vimos que o expansionismo fez parte da política e da cultura norte-americana desde o o período colonial. A intenção de ocupar territórios considerados "vazios", mas que na verdade eram habitados por culturas diferentes da norte-americana, era pautada na justificativa de que os norte-americanos eram um povo excepcional, uma espécie de povo eleito que tinha o Direito Natural à propriedade da terra. Segundo essa perspectiva, os "enérgicos norte-americanos" apenas "cumpriam um destino já traçado pela Providência": o de ocupar os territórios além das suas fronteiras e levar a "civilização" (leia-se valores do cristianismo protestante, da economia capitalista, do conhecimento tecnológico e os princípios da democracia) a outros locais. Na verdade, isso era apenas uma justificativa para a açã hegemônica dos norte-americanos sobre outras culturas.
Como foi visto, essa crença de que havia uma excepcionalidade norte-americana serviu como impulso à conquista dos territórios do Oeste e à anexação de metade do território mexicano. Serviu também de estímulo para que se expandisse "uma nova fronteira" de comércio para o Oriente - especialmente com a China e o Japão - e legitimou a ação norte-americana no Caribe no final do século XIX e início do século XX.
Não faltou a justificativa missionária para a expansão. Ainda em 1885, o pastor protestante Josiah Strong publicou um livro, que rapidamente se tornou um sucesso de vendas, chamado Our country (Nosso país), o qual garantia que os Estados Unidos haviam adquirido o seu particular "gênio anglo-saxão para a colonização" e que portanto tinham como missão:
"[...] espalhar as bençãos da democracia e do protestantismo na direção do México, América Central e do Sul, para as ilhas do mar, para África e além [...] pois as implicações do processo civilizatório criam mais e mais nobres necessidades, e o comércio segue o missionário."
O reverendo Strong unia a ação do missionário protestante aos interesses do comércio. O missionário entraria primeiro nos países que considerava "selvagens e bárbaros" e, em seguida, o comércio norte-americano atuaria também como elemento civilizatório das regiões.
A imprensa também colaborou para justificar o imperialismo norte-americano. No caso de Cuba, por exemplo, os jornalistas William Randolph Hearst e Joseph Pulitzer - que davam início à construção de duas influentes cadeias de jornais - manipulavam informações, tratavam o episódio de forma sensacionalista e estimulavam os Estados Unidos a entrarem na guerra contra a Espanha a favor da libertação de Cuba.
José Martí - líder do movimento de independência cubano - denunciava os discursos dos jornais sensacionalistas e dos políticos que enalteciam as "virtudes norte-americanas" em contraposição à "inferioridade latino-americanas". Justificativa que, segundo Martí, serviu para legitimar a intervenção dos Estados Unidos na região. Martí rejeitava a ideia de superioridade dos norte-americanos com relação a outros povos e criticava tanto norte-americano quanto latino-americanos que acreditavam no discurso ideológico dos Estados Unidos.
"É preciso que se conheça em nossa América (Latina), a verdade sobre os Estados Unidos. Não devemos propositadamente exagerar seus erros ou celebrá-los como se fossem virtude. Não existem raças, existem apenas diversas modificações do homem, em detalhes de hábitos e de formas que não lhes mudam o idêntico e essencial [...] aquelas qualidades de constituição que, por sua constância e autoridade, demonstrem as das variedades úteis à nossa América: o caráter cruel, desigual e decadente dos Estados Unidos e a existência contínua de todas as violências, discórdias, imoralidades e desordens de que se culpa os povos hispânico-americanos."
JUNQUEIRA, Mary A. Estados Unidos: a consolidação da nação. São Paulo: Contexto, 2001. p.103-105.
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