Durante a Revolução Industrial, a necessidade de combustível para movimentar as máquinas fez com que um grande número de pessoas fosse trabalhar nas minas de carvão da Europa. Era um trabalho estafante, insalubre e que provocou a morte de milhares de pessoas. Essa dura realidade foi retratada pelo escritor francês Émile Zola (1840-1902) no romance Germinal (1885), um painel das condições de vida e de trabalho dos mineradores do carvão na França do século XIX. A passagem a seguir mostra o personagem Etienne no interior de uma dessas minas.
Trabalho infantil nas minas de carvão |
[...] à medida que avançavam, a galeria ficava mais baixa, com o teto cheio de saliências. Forçando as espinhas dorsais a dobrarem-se constantemente. Etienne bateu violentamente com a cabeça. Se não fosse o chapéu de couro, teria quebrado a cabeça. [...]
O rapaz tinha ainda problemas com o solo escorregadio. Cada vez mais alagado. Em certos trechos atravessava verdadeiros charcos que só o chapinhar lamacento dos pés revelava. Mas o maior motivo de espanto eram, sobretudo, as bruscas mudanças de temperatura. No fundo do poço estava muito fresco e na galeria de tração, por onde passava todo o ar da mina, soprava um vento gelado, cuja violência parecia de tempestade, entre os muros apertados. A seguir, à medida que se penetrava nas outras galerias, que recebiam somente seu quinhão muito racionado de ventilação, o vento diminuía e era substituído por um calor sufocante, pesado como chumbo. [...]
Etienne estertorava, como se o peso das rochas lhe tivesse triturado os membros, mãos dilaceradas, pernas arranhadas, principalmente com falta de ar, a ponto de sentir que o sangue ia jorrar pela pele [...]. Ainda lhe faltava galgar a altura de suas zonas de corte! O suor o cegava, lutava desesperadamente para alcançar os outros [...].
Pouco a pouco, os veios enchiam-se de gente, o corte começava em todos os andares, no extremo de cada caverna. O poço devorador tinha engolido sua ração diária de homens, cerca de setecentos operários que trabalhavam nesse horário no formigueiro gigante, furando a terra em todos os sentidos, esburacando-a como uma madeira velha atingida pelo caruncho.
Extraído de: ZOLA, Émile. Germinal. São Paulo: Abril Cultural, 1972. p. 43-45.
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