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sábado, 15 de maio de 2010

O primeiro dia do resto de nossas vidas

Por Breno Altman

Aos 15 minutos do dia 8 de maio, ano 1945, o alto comando alemão assinava, perante os principais chefes das forças aliadas, a capitulação incondicional do regime nazista. Findava, em solo europeu, o mais sangrento e destruidor conflito de toda a história. O mundo acordaria, na manhã seguinte, livre de uma ditadura que se imaginava eterna.

A historiografia ocidental, mergulhada no clima da guerra fria, não demorou para ser dominada por uma versão daquele período conveniente às potências capitalistas. O esforço revisionista tinha – e segue tendo - dois objetivos: apresentar o nazismo como uma anomalia e demonstrar que as democracias liberais tinham sido as principais responsáveis por sua derrocada.

A primeira dessas ambições ideológicas é seminal. Hitler e seus sequazes deveriam ser tratados como loucos de carteirinha, descolados das classes sociais que representavam. Sua trajetória, contada como a antítese do liberalismo e, portanto, dos prazeres das economias de mercado.

Nada de abordá-los como a expressão mais agressiva do capitalismo tardio, sedento por mercados e fontes de matéria-prima já controlados por outras nações. Seria ainda menos adequado retratá-los como a ponta de lança contra o movimento operário e o primeiro país socialista, a União Soviética, conforme declaravam em seus próprios documentos.

O segundo dos propósitos da releitura ocidental sobre a guerra tem demandado mais munição. Não houve arma informativa ou cultural que não tenha sido usada para exibir os exércitos norte-americanos e ingleses como os bastiões da libertação. O Dia D é cultuado, geração após geração, como o momento culminante da luta contra Hitler.

Mesmo o holocausto tem sido manipulado como instrumento de propaganda, na tentativa de exibir o extermínio dos judeus e outras minorias como principal meta do nazismo. O genocídio racial, afinal, serve como cortina dramática para esconder que o objetivo central dos exércitos alemães era destruir a URSS e expandir o capitalismo alemão rumo ao leste.

O problema dessa versão, porém, são os fatos. Mais de vinte milhões de soviéticos pagaram com a vida por resistirem ao nazismo. Os países ocidentais abriram uma segunda frente somente três anos depois da agressão hitlerista contra a pátria de Dostoyevsky.

A coluna vertebral da poderosa Wehrmacht foi quebrada na Batalha de Stalingrado, um dos episódios mais épicos de que se tem notícia. Foi o início do fim para o Reich de mil anos.

Não é à toa que a capitulação alemã foi assinada no quartel-general das tropas soviéticas. Naquelas primeiras horas do resto de nossas vidas, a verdade ressurgia em honra aos mais heróicos combatentes.

Breno Altman é jornalista e diretor editorial do sítio Opera Mundi

(Artigo publicado originalmente no Opera Mundi www.operamundi.com.br

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